sábado, 9 de julho de 2011

Eucaristia

“A Eucaristia torna visível o que é ser Igreja: comunhão fraterna em torno ao Cristo presente e a partir dele. Une ao Cristo vivo e ressuscitado. Dá a vida de Cristo.” (livro-base, p. 60)

Significado teológico e enraizamento bíblico

A Eucaristia é um dos três Sacramentos da Iniciação Cristã, a saber: Pelo Sacramento do Batismo, o Espírito Santo abre o coração do batizado para receber a filiação divina que o compromete com o seu projeto de vida anunciado e vivido por Jesus; pelo Sacramento da Confirmação, o Espírito Santo infunde no cristão uma força especial, conseguida através dos sete dons, e uma aproximação mais firme com Jesus. Pelo Sacramento da Eucaristia, Jesus se faz alimento para que o cristão partilhando do seu corpo e sangue, comungue também da sua meta de promover a justiça e a paz.
Na Eucaristia, realiza-se o memorial da paixão-morte e ressurreição de Jesus; por isso esse sacramento é considerado como "fonte e ápice da vida eclesial": "Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo-o abençoado, partiu-o e, distribuindo-o aos discípulos, disse: 'Tomai e comei, isto é o meu corpo'. Depois, tomou um cálice e, dando graças, deu-lho dizendo: 'Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados" (Mt 26, 26-28).
Jesus ao declarar "isto é o meu corpo" e "isto é o meu sangue" legou-se como alimento para que todos seus seguidores se fortalecessem com ele, por ele e nele. A Eucaristia é um dos mistérios da nossa fé. Jesus não se dirigiu aos discípulos com metáforas, já que naquele momento, ele não estava contando histórias. Naquela quinta-feira, estando à mesa com eles, o Mestre sentindo a proximidade de sua ida lá para a casa do Pai, garantiu, dessa forma, a sua permanência aqui e para sempre, a nova e eterna aliança entre Deus e os homens. A transubstanciação do pão eucarístico em corpo de Cristo e do vinho em seu preciosíssimo sangue é o milagre de um amor tão grande que Deus nutriu pelas suas criaturas, que o fez morrer por nós e – vencendo a própria morte – ressuscitar para que tivéssemos vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Portanto quem nos alimenta e sustenta é um Deus vivo; e sua presença real na Eucaristia é graça sacramental.

Simbologia
Pelos sacramentos, Deus torna tudo sagrado: os objetos litúrgicos passam a simbolizar, transcender a realidade visível; ele sacraliza a pessoa humana, as escolhas que se fazem, as relações que se estabelecem, os significados que se criam e que retornam para ele. No sacramento da Eucaristia, quando o sacerdote, ungido pelo sacramento da ordem, consagra a hóstia e o vinho, realizando o que Jesus pediu que se fizesse em sua memória (cf 1 Cor 11, 23-25).

Vivência litúrgica dos Sacramentos

A Liturgia é o espaço da celebração da fé. Através da Liturgia, Deus Pai criador – que abençoa toda a criação desde o seu início – é reconhecido, louvado, adorado e glorifícado. A liturgia cristã é uma correspondência de amor entre o humano (a Igreja) e o divino (a Santíssima Trindade).
Através dos sacramentos, o Cristo glorificado realiza plena e concretamente o que Ele mesmo instituiu quando se encarnou. A Conferência Episcopal de Puebla (parágrafo 27) alerta que "Nenhuma atividade pastoral pode-se realizar sem referência à liturgia", ressaltando o seu caráter evangelizador; nela "o Espírito Santo é o pedagogo da fé do povo de Deus", preparando os fiéis para o seu encontro com Cristo.
A dimensão Bíblico-Teológica possui um caráter relevante na vivência litúrgica sacramental, porque a celebração faz o cristão reviver o projeto salvífico em Jesus Cristo e compreender as intervenções de Deus, na história do povo de fé, e o que Ele quer de cada um de nós, no nosso presente.
É na comunidade de fé, na dimensão eclesiológica, que os Sacramentos se realizam em nome de Jesus Cristo, numa comunicação rica e permanente, causada pela presença da graça (ex opere operato). A proposta do Reino exige que tenhamos uma subjetividade aberta para que possamos ter uma experiência de uma convivência comunitária e fraterna (ex opere operantis).
“A Sagrada Liturgia não esgota toda a ação da Igreja. Pois, antes que os homens possam achegar-se da Liturgia, faz-se mister que sejam chamados à fé e à conversão.” (SC 9/534)

A fé é uma resposta positiva que o ser humano dá a Deus, um sim que o compromete com o Seu projeto. Fé é dom e compromisso; é adesão ao anúncio do Reino de Deus que se faz aqui e agora. Fé é uma dinâmica movida pelo Amor e que nunca mais terá fim.
É essa fé que nos torna interlocutores conscientes e participativos da mensagem que Jesus nos legou através da linguagem dos sacramentos. A linguagem sacramental, por ter um caráter fortemente simbólico, deve ser concretizada na dimensão mistagógico-vivencial dos sacramentos. Celebrar para um ser cristão, para um agir cristão.
Pelos sacramentos, nós nos fortalecemos naquele que é infinitamente maior que nós, porque quando se dá o momento segundo – o momento consciente da interlocução – percebemos, a partir daí, pela nossa conversão (em permanente processo), a intervenção permanente de Deus em nossa história, em nossa existência humana (caráter opus-operatum). É a nossa fragilidade de criatura que se deixa tocar pela força do Criador, compartilhando do seu mistério de amor.